Projeto do português
David Fonseca para o ano de 2012,
Seasons é dividido em dois discos,
Rising, que acaba de ser lançado esta semana, e
Falling, previsto para setembro próximo.
No primeiro volume da empreitada, o artista europeu atenua a vibração rock de suas composições, privilegiando bem mais os contornos pop nos quais sempre embebeu fartamente suas canções.
Por conta disso, sintetizações e teclados ganham maior preponderância melódica, bem como acordes de guitarra modificados ou estendidos pelo uso de pedais. O intenso frenesi eletrônico está presente com muita força em faixas como o single
“What Life is For”, que conta com uma introdução de sintetizador que sobrepõe-se enormemente à bateria bem coordenada, ao baixo e mesmo ao vocal completamente mergulhado em filtros de eco e distanciamento, e em
“*Go*Dance*All*Night*”, que conta com várias camadas de samples de vocais afogados em filtros, synths nebulosos e uma bateria acústica farta em plena cadência de dance music no refrão da canção. Em outras canções, a abordagem da programação eletrônica é bem menos invasiva e mais ponderada, misturando-se mais homogeneamente com elementos acústicos e mesmo os não-acústicos, como na faixa de abertura,
“Under The Willow”, que inicia com orgão e loop de um sampler de guitarra que constitui a base sobre a qual outras harmonias são sobrepostas, incluindo violões, bateria, baixo, toques ao piano, e alguns acordes extensos e malemolentes de guitarra que ficam registrados na cabeça de quem ouve, e o dueto
“Heavy Heart”, cujos teclados nostálgicos e programação dançante lembram algo da atmosfera saudosista de
“Morning Tide (I Just Can’t Remember)”, deliciosa faixa do disco de 2009,
Between Waves.
Apesar da mão pesar um tanto no synth-pop destas faixas, o David Fonseca mais equilibrado e cauteloso que os fãs conhecem tão bem e amam tanto ainda se faz presente neste volume de Seasons, exibindo tanto a sua faceta de rockeiro vigoroso quanto a de contumaz compositor de baladas que transbordam romance.
No frêmito rockeiro do português, temos
“Armageddon” e
“Whatever the Heart Desires”, a primeira com um acorde de guitarra longo e ondulante pontuando a introdução e refrão da melodia, que é atravessada por uma percussão marcada, mas que se mantém na retaguarda, sem interferir muito na harmonia para deixar mais espaço para que riffs das guitarras de apoio, baixo e os vocais múltiplos a acompanhem em pé de igualdade; na segunda, riffs mais gingados de guitarra fazem o corpo dançante da melodia rock, mas aqui a bateria injeta mais energia e provoca, ao lado dos riffs irresistíveis, uma propulsão poderosa que inevitavelmente convida a sacolejar o corpo ao seu ritmo.
Já trafegando pelas baladas do disco,
“Every Time We Kiss”, entra com violão sutil e alguns vapores de guitarra que logo tem suas harmonais mais incrementados e ganham a companhia de uma bateria bem sincopada, e em seguida
“It Feels Like Something” traz um piano algo triste abrindo a frente para o vocal macio e emocionados do cantor, violões e guitarras sutis que ao final da canção ganham intensidade, encompassando todo o sentimento das letras que falam sobre o amor que sempre esperamos um dia encontrar.
Diferentemente dos dois discos imediatamente anteriores à este,
Seasons: Rising não é um álbum que ganha de imediato o ouvinte.
Embora a espessa cortina de sintetizações e intrumentais não seja tão onipresente a ponto de transformar todo o disco em um interminável
wall of sound, são necessárias algumas sessões sucessivas para que o suas harmonias mais delicadas e elaboradas, um pouco ocultas pela cascata de synths e instrumentos, realmente emerja e se infiltre nos ouvidos de quem o ouve, e nisso ajuda muito
“I Would Have Gone And Loved You Anyway”, a faixa que fecha esta primeira parte do projeto Seasons.
Explorando com maestria toda verve pop/rock que arrebatou fãs tanto de Portugal quanto no Brasil, a canção reune em um amálgama perfeito riffs e reverberações de guitarra, baixo bem marcado, bateria escandalosamente ritmada em um corpo sonoro intenso e sedutor que deixa nos ouvidos não apenas a sensação de um possível segundo single para o disco, mas lembra os fãs uma vez mais que este é o David Fonseca que sabe como poucos fazer pop/rock que dê satisfação e orgulho de ouvir.
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