"Fazes-me Falta" é um romance que roça o limiar da poesia, um altar erigido ao culto da amizade e do amor, no qual duas vozes se intercalam: a primeira pertence a uma pessoa que acabou de morrer, embora não consiga encontrar o eterno descanso por continuar demasiado ligada à vida e às pessoas que deixou. É uma alma que vagueia, perdida nos momentos e nas curvas do tempo, que revê e relativiza as urgências terrenas com a infinitude da eternidade.A segunda voz sai da garganta de alguém que sofreu a perda de uma pessoa muito próxima, um complemento de si mesmo, um anexo da sua alma. Esta voz viaja nas dores das ausências, dos silêncios, nas interrogações acerca dessa coisa suja e egoísta que é a morte, essa promessa inquebrável que nos fazem à nascença, essa bruxa maldosa que não respeita nem amores, nem ambições... Nem sequer segue qualquer ordem lógica ou critério. Às vezes faz-se anunciar, outras vem de repente, para que o sofrimento se dilua na surpresa.Não estão neste livro as respostas às mais variadas questões metafísicas que nos possam ocorrer sobre a vida e a morte. Mas conduz à reflexão: amamos as pessoas como devemos enquanto podemos? Isto é irreparável, se nos apercebermos que não tarde demais.Aclamado pela crítica, esta obra foi considerada o melhor romance de Inês Pedrosa.
É um romance sobre o amor. Ou melhor, é o amor o principal personagem deste livro. Há a história de Cláudia que se apaixona por Dinis no funeral de Mariana, que não se sabe como pôde ter se matado - ou teria ela caído da varanda acidentalmente? Assim como há narrativas das aventuras da turma liderada por Ricardo Luz - o valente namorado de Cláudia -, que brinca no cemitério à noite ou rouba gasolina dos carros para alimentar as motos. Também há outras turmas, mas há, principalmente, meninos e meninas, todos com o coração à flor da pele. E nada disso importa, pois há a pele, que junta e separa, e os beijos, os corpos, os segredos, e o sem-jeito das palavras, a submissão, as dores das traições e rejeições e, claro, as cartas ridículas. Há, enfim, o amor tão misterioso quanto a frase resmungada pelo velho Murinelo: "Há respostas humanas para o que não é humano".
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